sábado, 6 de junho de 2009

E porque os bons comentários não devem ser ignorados...

Se leu tão bem o Tratado de Lisboa e anda tão bem informado em relação a estes assuntos, deveria então também saber que quando o Tratado de Lisboa entrar em vigor, já não será o mesmo que foi aprovado em Lisboa. Para além das cláusulas de exclusão que passarão a existir em relação à Irlanda, que à custa deste Não, souberam muito bem renegociar e tirar proveito, como condição para o referendarem de novo, a Comissão Europeia irá poder manter um Comissário por cada Estado membro. Se leu o Tratado sabe, certamente que o Tratado de Lisboa aprovado privaria, à vez, um terço dos países membros, do seu Comissário. Esta alteração ficou a dever-se ao Não da Irlanda, votado pelos pelas senhoras e senhores das usinas que não leram o Tratado. Eu portuguesa e europeia, fico muito satisfeita por podermos manter o nosso Comissário.
Quem fala do Libertas desta forma, parece perceber pouco de política europeia. É que até à data o Libertas, representado em Portugal pelo MPT, fez pela Democracia europeia o que até hoje ninguém mais conseguiu fazer.
Parece que afinal de contas quem leu o Tratado foram mesmo as senhoras e senhores das usinas.
No seu lugar eu iria ler de novo, até porque já está diferente daquilo que leu. E se todos nós europeus, pudessemos ter escolhido, como manda a Democracia, não seriam meia dúzia de gatos pingados a mandar aquele trabalho pelo cano abaixo, mas sim várias dúzias de gatos pingados. Aquela meia dúzia de gatos pingados pelo menos pode escolher. E escolheu, ao que parece, muito bem.
Bem haja.

Antes de mais, agradeço profundamente pelo comentário. Segundo, se notou alguma agressividade ou violência no meu post, notou bem, até porque fiz de propósito (note-se, até disse palavrões!). Terceiro, o post tinha outros objectivos implícitos, mas já lá vamos.

E podemos até ir já lá.

Vamos lá ver, alguém acredita, que tirando meia dúzia de curiosos ou malta que "teve mesmo que ser" por vários motivos, que a maioria das pessoas leu o tratado? Que os senhores na Irlanda leram o tratado? Que em Portugal alguém leu o tratado? Alguém acredita que o Não da Irlanda deveu-se a alguém ler o Tratado? Quem acompanhou a questão do referendo irlandês mais a fundo sabe bem que os movimentos pelo "Não" jogaram com argumentos algo falaciosos e pouco ou nada europeus. Apelou-se à Irlanda mais rural, mais conservadora, mais "operária" para meter a cruz no "Não", não por causa da questão dos comissários, mas sim para se "evitar" que o resto da UE profana, liberal, que convive com realidades horrendas como divórcios e abortos mande "nisto". Houve quem usasse argumentos como "votar Sim é abrir portas ao aborto" e afins. Isto é argumentos de jeito? Isto é ler o tratado? Não me parece nada! Aliou-se este tipo de propaganda à abstenção de possíveis votantes no Sim, e
pronto. Enfim, mas são uns sortudos, puderam votar, votaram usando o coração, e transformando um tratado europeu numa questão de fé, mas não faz mal, pelos vistos.

Em Portugal, há imensa gente, mas muita muita gente que acha que o tratado de Lisboa é uma invenção do Sócrates e do Durão para tramar os portugueses, e de caminho os europeus. E são pessoas assim que vão amanha votar. E são os candidatos que nada fazem para mudar esta situação que vão ter grandes resultados amanhã. O objectivos do LIBERTAS até podem ser bastante nobres, mas na minha visão são passos maiores que a perna, juntando a isto uma visão algo utópica. Custe muito a muita gente, ou se avança numa forma de fazer politica sem demagogia, sem questões de fé, sem escândalos, sem trocas de galhardetes, em que os debates sejam debates e as campanhas sejam informativas e esclarecedoras, ou não há muito a fazer pela democracia, e esta continuará menos democrática do que seria expectável. Isto é mais realista do que pensarmos em tratados mais legíveis ou acessíveis. Nunca o vão ser. Contudo, acho curioso haver pouca ou nenhuma gente que se digne a explicar "o que é isto da Europa" à população, mas a sério, sem mencionar o BPN, a licenciatura do PM, o Benfica, a Casa Pia, e outras coisas do género.

Acho o MPT um partido muito simpático e nobre, o mesmo penso de Pedro Graça, mas espero que não fique desagradado com a visão dura e prática com que olho para estas questões. Eu antes de ser a favor da democracia, sou a favor do esclarecimento do povo, senão a democracia funciona mal, e eu prefiro uma democracia menos democrática, mas que funcione, a uma democracia mais democrática cujo eleitorado não saiba aquilo que está a votar. Primeiro uma coisa, depois outra. E a Europa é uma coisa assim, algo imperfeito, mas que lá vai funcionando, e agora a 27, mais complicado é. Temos a Europa possível e praticável. Se eu preferia outra coisa? Preferia. Se isso é possível? Para já, não.


À sra. Maria Andrade, kudos para si, pois raramente vejo alguém que conheça estas questões mais a fundo. No entanto, vamos fazer um esforço para não reduzir a ideia de democracia a "quantos mais sufrágios, melhor", porque eu vejo muita campanha e pouco esclarecimento. Se calhar o povo não quer ser esclarecido, mas há que haver alguma teimosia. Eu cá preferia que houvesse mais teimosia neste sentido. E os meus caros candidatos, vão trabalhar nesse sentido? Eu espero que sim, mas espero mais de uns do que de outros, também sou realista nesse aspecto. Estou mais expectante em relação aos partidos pequenos (no qual se inclui o MPT, mas estou mais atento ao MMS) do que ao PS, PSD ou BE. Vamos lá ver agora nas legislativas, o que os meus caros vão sugerir como oposição. Daqui até lá, temos um dia de eleições europeias. Então até amanhã!

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